Ao assumir a presidência da Associação Nacional dos Magistrados da
Justiça do Trabalho (Anamatra), o juiz Guilherme Guimarães Feliciano
criticou nesta quarta-feira (31/5) o modelo de gestão do Poder
Judiciário que tem sido aplicado nos últimos anos, focado em melhorias
na produtividade.
“Caminhamos para um modelo fordista-taylorista
de produção judiciária. Esse modelo faz com que, a bem de melhor
produtividade, os magistrados vejam-se tentados a olvidar os dramas
humanos que estão por detrás das ações que julgam. E, no limite,
sujeitem-se a toda sorte de exaustão, mental e física, na busca de
números que assegurem bons lugares nas classificações por merecimento”,
afirmou Feliciano em cerimônia no Clube Naval, em Brasília.
O novo presidente da Anamatra defendeu que é preciso repensar modelos
ditados pelo Conselho Nacional de Justiça aos tribunais. Também
cobrou condições adequadas para o trabalho de juízes e disse que o papel
da Justiça do Trabalho é “fazer cumprir a Constituição e as leis, mesmo
quando as vozes das ruas e dos gabinetes parecerem querer, ao revés,
pôr em xeque a atual ordem constitucional e legal”.
Feliciano
criticou propostas em andamento no Congresso. Ele afirmou que, enquanto
a reforma da Previdência é “oportunista” por impor regras muito rígidas
aos trabalhadores mais pobres, as mudanças nas normas trabalhistas
— permitindo que acordos se sobreponham às leis instituídas
— confirmarão “o quadro de derretimento do Estado social brasileiro”.
A
fixação de idade mínima para aposentadoria, segundo ele, “reservará aos
brasileiros pífios seis meses de fruição da aposentadoria em estado
saudável”.
Já a reforma trabalhista
apresenta “inconstitucionalidades patentes”, na avaliação do novo
dirigente. “Embora a Constituição só admita a flexibilização de jornada
mediante negociação coletiva, o projeto prevê jornada de 12 horas e
acordo de banco de horas por mera adesão individual”, exemplifica.
O
presidente ainda rebateu críticas de que a Justiça do
Trabalho seria cara, ineficiente e atrapalha os empregadores. Ele
afirmou que o valor devolvido pela Justiça à sociedade não deve ser
analisado apenas em cifras, pois, ao solucionar os litígios que lhe são
apresentados, gera-se “pacificação social e consciência cidadã”.
Também
disse que, diferentemente do que alegam críticos, a Justiça do Trabalho
é defensora da livre concorrência, pois garante melhores resultados ao
empregador que cumpre as normas à risca.
“O Brasil convive com
alguns nichos de cultura corporativa que supõem ‘tolerável’ a sonegação
de direitos trabalhistas, como se não estivéssemos tratando, as mais das
vezes, de direitos humanos de segunda dimensão, que não podem ser
simplesmente liquefeitos nas equações econômicas e nas estratégias de
competitividade”, opinou.
http://www.conjur.com.br/2017-mai-31/presidente-anamatra-critica-ritmo-fordista-juizes
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